sábado, 21 de agosto de 2010

A rua

Em tempos de guerra:

( Ele escreveu um livro de poesias nunca publicado, 23 cartas de amor não enviadas, 4 poemas em jornais nunca divulgados e 10 músicas nunca gravadas. Palavras fugiam do seu coração inspiradas na mulher do outro lado da rua... Que não o conhecia, logo, não o amava. Ele se uniu às ordens de não atravessar a rua, e só isso lhe parecia o mais correto. Pois ele sabia que até no inferno não sofreria como sofre só em olhar para o rosto dela e para seus passos rápidos na calçada, que mais pareciam pisadas lentas e agudas no seu peito. )

fica difícil atravessar a rua.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

1996

O Monza azul na garagem da nossa casa. Não lembro o dia. Não lembro como cheguei perto e me deixei levar pelo carinho que me cercava naquele tempo e naquele lugar. Lembro do portão: grande e verde. Lembro das flores do jardim: macias e perfumadas. Talvez seja fácil lembrar do que você mantém contato com o deslizar dos anos. Mesmo assim, não quero lembrar dessa situação, nem do seu braço ao meu redor. É difícil olhar uma fotografia que traz a saudade de um momento que não consigo mais resgatar - bloqueio. Mas eu sei: era muito bom. Percebo que nessa sacola você leva (ou traz) garrafas de cerveja, para uma possível manhã de domingo regada a sorrisos, desenhos animados, dores na barriga pelas piadas... - bloqueio. Você tinha meu coração quando eu carregava apenas 6 anos de vida. Você tem meu coração. Sei que as formigas do nosso chão não paravam de me morder, mas se você estava ao meu lado só uma coisa eu temia: sua saída. Embalada por nossas manhãs de domingo, seu copinho de cerveja e a certeza da nossa alegria, pois eu sabia que isso acontecia. Mas não me peça para lembrar... Saudade, às vezes, dói.