domingo, 14 de fevereiro de 2010

Pensamentos de Carenina

Quando sua vida não vira pesadelo, Carenina aproveita para tirar suas botas sujas, prender seu cabelo e desforrar sua cama. Percebe, ao deitar, que apenas um cômodo da casa lhe permite sonhar: seu quarto. E na sua casa (onde mora com sua mãe e seu padrasto): ela odeia os quadros pendurados na parede, a vitrola que não usam e a sala sem alegria: "Pintaria as paredes com as melhores cores, na vitrola escutaria as melhores músicas e caso a primavera não chegasse plantaria flores na sala de estar" - pensa.
Carenina acha que o ser humano é composto pelos dias que vive, e ela ama seus dias. Não importa as dores que seu calendário carrega, nem a tristeza que provém de seus olhos: ela é feliz. Seus dias: leva seus livros como se andasse de mãos dadas com seu namorado; vive no passado quando fita os retratos; na cama: usa os lençóis como moradia; os passos na rua: o desejo de caminhar e continuar; emoções em forma de temporal: ora são o que são, ora se perdem na multidão; na vida: "amar e mudar".
Carenina é uma menina que não sente vergonha de amar e não consegue guardar seus sentimentos. Em um dado momento todas as palavras desabaram sobre a pessoa amada:
- Amo você! Muito tarde? Muito cedo? Enfim, não importa. A questão não é o tempo que se inicia, mas a intensidade com que esse amor é sentido. Mesmo que isso não faça sentido. É bom ter você comigo. Essas palavras soltas são confissões das borboletas presas - diz.
Ela cai, mas levanta e caminha. E seja lá qual for seu trajeto, até mesmo o que se conquista (de bom ou ruim), sabe que seu destino é virar pó e do fim não se escapa é para todos.

6 comentários:

  1. incrível!
    "A questão não é o tempo que se inicia, mas a intensidade com que esse amor é sentido. Mesmo que isso não faça sentido. É bom ter você comigo."
    adorei essa parte. lindo texto!

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  2. Primeira reação após ler o texto: "puta que o pariu!"

    Seguramente é uma qualidade rara escrever sobre o cotidiano de forma tão rica, profunda... não pare de escrever, por favor, gatenhona!

    Amo você...

    ;)

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  3. u gostei, de fato gostei muito dos fios de pensamentos que conseguiram tomar formas através de palavrinhas bem desenhadas. O primeiro e último, sobre Carenina, me lembrou muito Clarice Lispectopor três motivos:
    1 - o nome Carenina
    2 -a sequencia de 2 pontos no texto.
    3 - a forma doce de se contar algo, algo bem explicado para no fim jogar uma bomba no colo de quem ler.

    Um beijo, querida, passarei bem mais vzes por aqui.

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  4. Uia!

    Muito bom!

    Depois eu comento algo mais elaborado, acabei de voltar das ladeiras de Olinda

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  5. "São confissões das borboletas presas."

    As minhas vivem fazendo confissões tb! :x
    Gostei que só desse texto! ;D
    :*!

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